Voltar para blog 04 set 2017
Será a Domozo a UBER do imobiliário?
Por: Massimo Forte
 
 
Como especialista em Mediação Imobiliária, e sendo assumidamente um cliente assíduo da UBER, não consegui resistir à partilha da minha opinião sobre esta nova empresa que surgiu como uma marca recente, mas que tem por base um conceito já testado por outros, falo da Domozo.

Para ser prático e pragmático, dividi a minha opinião em 3 pontos que considero fundamentais para definir o que está a acontecer com a entrada da Domozo no mercado da Mediação Imobiliária:

 

1 - O Negócio

A ideia de negócio da Domozo é legítima, e poderá até fazer sentido numa ótica de serviço low cost. Tem licença AMI, por isso pode operar como mediadora imobiliária e prestar o serviço que entender consoante o que se propõe a cobrar ao mercado. Tem como base do seu negócio uma plataforma informática, nada de muito inovador, pois empresas similares operam já há alguns anos noutros mercados, como por exemplo, Estados Unidos, Reino Unido e Holanda, citando apenas alguns exemplos.

 

 

2 - Os Players

Como disse, a base deste negócio é uma plataforma informática, que contudo terá de agregar informação do mercado, informação esta que só poderá ser possível alimentar com o contributo dos Mediadores Imobiliários. Uma das questões mais sensíveis que se tem levantado, é a relação direta que a Domozo tem com os Mediadores Imobiliários, pois a marca Domozo foi criada pela empresa que detém as marcas Imovitual e OLX, empresas que operam com Mediadores Imobiliários. Esta situação não é nova, já aconteceu nos Estados Unidos com mais do que um portal, nomeadamente com um dos maiores, o Zillow. Na minha opinião, e apesar de novamente referir a legitimidade de qualquer portal poder querer entrar no negócio da mediação imobiliária, ou em qualquer outro desde que cumpra todos os requisitos legais, não me parece muito correto lançar um novo negócio que concorre diretamente com os seus principais clientes, mas o menos correto é mesmo a forma muito pouco elegante como a Domozo resolveu promover-se para o lançamento da sua marca, utilizando uma publicidade com uma mensagem negativa pondo em causa o valor e o custo do serviço prestado pelos Mediadores Imobiliários, sendo os Mediadores Imobiliários os principais clientes do portal Imovirtual e acredito que o Imovirtual saiba bem em que consiste o valor dos serviços que a Mediação Imobiliária de qualidade presta. Mas mais do que valores numerários, falo de valores e convicções que rapidamente se remetem para a ética, para uns não haverá mal nenhum, mas para outros não fará sentido e este ponto explica a reação das grandes redes de Mediação Imobiliária, que imediatamente retiraram todos os seus anúncios do portal Imovirtual, tomada de posição que foi tomada em conjunto com a APEMIP que discorda totalmente da forma como este se promove.

 

 

3 - O Mercado

Portugal, apesar de ser o país mais antigo da europa, é um país que está no topo quando se fala em experimentação de novos conceitos e tecnologias, é o chamado de early adopter, o que quer dizer que muitas vezes aderimos a projetos, produtos e conceitos inovadores muito antes do seu tempo. Pode ser positivo, mas pode igualmente tornar muito mais difícil a sua aceitação, veja-se o caso da empresa Home Hunting um projeto praticamente igual ao da Domozo que entrou em Portugal há cerca de 4 anos e que é hoje uma Mediadora Tradicional... o serviço e condições low cost não só não foram aceites pelo mercado, como não lhe permitiram subsistir financeiramente. Hoje a Home Hunting é uma excelente agência imobiliária, muito apoiada na tecnologia e nos seus benefícios, mas também muito relacional, prestando um excelente serviço ao cliente, e naturalmente, com um pricing correspondente.

 

Como quase tudo na vida empresarial, será o mercado a julgar a Domozo e a ditar a sua sobrevivência face ao serviço que prestam e à eficácia que apresentam. Na minha opinião há claramente espaço para este tipo de empresas, aliás, em breve a Domozo terá novos concorrentes num mercado que também é constituído por pessoas que preferem um serviço low cost em detrimento de um serviço dedicado e inevitavelmente de maior qualidade, afinal, é tudo uma questão de expetativa.

Para mim a UBER é bem diferente da Domozo, pois a UBER é apenas uma plataforma muito bem-sucedida que fornece um software a empresários (os seus parceiros de negócio) permitindo-lhes desenvolver uma atividade a preços mais concorrenciais e transparentes para o cliente final comparativamente à sua concorrência direta, ou seja, aos taxistas. Claro que não discuto aqui a legitimidade da regulação que deveria existir sobre a UBER, mas a minha questão é a seguinte, será que a Domozo conseguirá subsistir tendo em conta que o seu negócio irá depender cada vez mais dos particulares? Como sempre o mercado e o tempo terão a última palavra a dizer, sendo que na minha opinião para estar no negócio da Mediação Imobiliária nunca nos podemos esquecer que estamos na realidade num negócio que envolve um exigente e profundo conhecimento sobre o local ou sobre o segmento do mercado onde se atua, vive essencialmente de um serviço prestado de pessoas, para pessoas!

 

 

Artigo publicado em: http://massimoforte.com/blog

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